O velho ditado diz que ‘não se pode colocar todos os ovos em uma mesma cesta’, mas são poucos os investidores que no dia a dia seguem essa regra. Um levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que somente 16% das pessoas que poupam no país diversificam seus investimentos, ou seja, depositam o seu patrimônio em ao menos dois tipos diferentes de aplicações. A maioria (63%) dos entrevistados aposta tudo em um mesmo produto financeiro. Já 21% até guardam dinheiro, mas não investem, optando por deixar a quantia parada na conta corrente ou na própria casa.
Dos 74% de poupadores que aplicam em alguma modalidade de investimento, a caderneta de poupança é o principal destino, citada por 60%. O tesouro direto desponta como o segundo tipo de investimento mais popular do país, mencionado por 11%. Depois aparecem os fundos de investimentos (8%), previdência privada (6%) e CDBs (6%). Apenas 3% de quem poupa investem em ações, que ficam à frente das LCI e LCAs (2%) e das criptomoedas (2%).
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, não concentrar todos os recursos em um único tipo de investimento é um princípio básico para todo investidor, principalmente no atual momento em que as taxas de juros estão mais baixas, o que exige do poupador um apetite maior ao risco, caso queira que seus rendimentos superem a inflação.
“Diversificar os investimentos é a forma que o poupador tem de se proteger contra uma eventual desvalorização de alguma das suas aplicações, amenizando riscos e encontrando formas de compensar perdas. Isso significa que se uma determinada aplicação não tiver um bom retorno em certo período, a distribuição dos recursos em outras aplicações pode equilibrar a rentabilidade final”, afirma a economista.
Marcela afirma que não existe uma receita de bolo que aponta a maneira certa de diversificar os investimentos. O primeiro passo é identificar o quanto o investidor está disposto a correr riscos e qual a sua expectativa de resultados. “A diversificação é importante porque, além de mitigar riscos, permite uma alocação dos recursos condizente com o objetivo da aplicação. Quando se trata de uma reserva de emergência, por exemplo, o recomendável é que a aplicação tenha liquidez. Quando se trata de aposentadoria, pode ser interessante abrir mão da liquidez para ter uma rentabilidade maior. Lembrando que diversificar não é apenas distribuir o patrimônio entre opções de renda fixa e variável, mas também procurar diferentes aplicações dentro de uma mesma categoria. No caso da renda fixa, o investidor pode buscar diferentes indexadores. Já no caso de ações, ele pode buscar empresas que atuam em mais de um segmento da economia”, explica.
Em um ano, passa de 17% para 21% o percentual de poupadores. Renda baixa é principal razão para quem não tem hábito de guardar dinheiro
Por mais que os indicadores econômicos mostrem que a recessão ficou para trás, as dificuldades financeiras estão presentes no dia a dia do brasileiro. Exemplo disso, é que muitos não estão conseguindo chegar ao fim do mês com sobras de recursos. No último mês de setembro, apenas 21% dos consumidores conseguiram poupar parte de seus rendimentos – o dado é um pouco maior do que o observado no mesmo mês do ano passado (17%). Já 68% não pouparam qualquer quantia. Em média, cada poupador conseguiu juntar R$ 453,73 em setembro.
Entre os que poupam habitualmente, proteger-se contra imprevistos é a principal razão (52%). Em seguida, aparece a intenção de garantir um futuro melhor para a família (37%) e a intenção de abrir um negócio próprio (17%). Já a aposentadoria, que deve ser prioridade como um planejamento de longo prazo, foi lembrada por apenas 17% desses poupadores. Com o mesmo percentual, também apareceu a compra ou quitação da casa própria.
Para os consumidores que não guardaram recursos no período analisado, a principal justificativa é a baixa renda, razão dada por quase metade (47%) dos entrevistados. Em seguida, aparecem os imprevistos, lembrados por 17%. A dificuldade para controlar os gastos (15%) e a falta de renda no momento (12%) completam a lista dos principais empecilhos.
Para o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, os efeitos da crise ainda impõem restrições a vida financeira do brasileiro, mas isso não explica tudo. “Quem tem mais baixa renda, tem também uma margem menor para manobrar seus recursos, mas a formação de reserva não requer, necessariamente, valores altos. O que faz diferença no fim das contas é frequência e a disciplina em guardar recursos”, analisa.
Outro dado que o levantamento mostra é que 40% dos brasileiros que possuem reserva financeira tiveram de sacar ao menos parte desses recursos no último mês de setembro, sendo que 15% tiveram de utilizar o dinheiro guardado para pagar contas, 11% foram surpreendidos com imprevistos e 10% direcionaram para saldar dívidas em atraso. “O recomendável é que os poupadores tenham distintas reservas. Uma para imprevistos, em que ele consiga resgatar esse montante a qualquer momento. E outras específicas para cada objetivo, como realizar um sonho de consumo e também para a aposentadoria. Dessa forma, sonhos não são interrompidos quando houver uma emergência”, afirma Vignoli.
Metodologia
O indicador abrange 12 capitais das cinco regiões brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais a uma margem de confiança de 95%. Baixe a íntegra da pesquisa em https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas/indices-economicos